4.4.11

16.

não consigo escrever. não consigo escrever. não consigo que saiam palavras das minhas mãos, ou dos meus dedos, ou dos meus olhos. nem bonitas, nem feias. nem soltas nem emaranhadas em si próprias. não consigo fazer nada. há demasiado tempo.

5.3.11

14.


« -Vou guardar as tuas mãos na paixão que tenho por ti, mas não te posso revelar o meu nome, nem precisas de o saber. Chama-me o que quiseres, dá-me um nome para que possamos amarmo-nos. Aquele que tinha perdi-o no caminho até aqui. Pertencia a outra paixão, e já a esqueci. Dá-me tu um nome para eu poder ficar contigo.»


«Antes de partir, Nému, talvez ainda não seja tarde para começares a regressar. Estou sozinho, ardo na memória das noites em que não te conhecia.[...] Aliso as tuas pálpebras durante as noites de vigia e sei que uma vida anterior à minha presença as feriu.
As tuas mãos vestiram as minhas, e fizeram-nas voar de sedução em sedução. Mas, dentro das fotografias, erguem-se pirâmides de cintilantes ossos, pequenas nódoas de memórias, feixes de veias quebradas pelas chuvas... não, não é o solitário canto do noitibó que nos supreende, [...] mas sim o grito que há-de crescer do fundo de nós. E, com o tempo, as mãos, as tuas, cairão também no esquecimento... e delas apenas permanecerá uma sensação de ardor sobre a minha pele.
Regressa e oferece-te à preguiça triste de quem continua aqui, vivo, sorvendo a espiral da sua própria ausência. [...] Regressa, peço-te, mesmo antes de partires.»

«Aqui estou eu... só, dentro e fora de mim, último ­passageiro da minha noite interior.»




perdi as palavras mais bonitas nesses papéis. vou encontrá-las, um dia. 
estas são de alguém.

24.2.11

12.

és toda a beleza do mundo. a graciosidade sobrehumana que emana de ti destrói-me. 

11.

sim, vocês trocam palavras de amor. se não for amor, não sei que lhe chamar. tocam-se em momentos paralisados no espaço, retirados  da realidade para não vos ferirem. e assim se cobrem de amores roucos e intermitentes, rodopiam mundos e sonhos na distância, no vácuo, que separa as vossas peles.
é assim que sofremos esta dor palpável e inevitável.


'não estou aqui a fazer nada' - repito para mim própria. 

23.2.11

10.

vivemos neste silêncio oco de quem se quer sem se amar.
acumulamos dias como troféus de sal, sem que no entanto lhes provemos o gosto. deixamos palavras aqui e ali. palavras em que nenhum de nós crê. todas aquelas que podíamos sussurrar à noite vazia, cosemo-las ao frio.
e de nós resta um pequeno casaco de lã (ou de outro cristalino e gélido, se assim preferires).


mais tarde, somos encontrados com lãs rasgadas e de sexos juntos, congelados no silêncio das conversas que nunca tivemos.

1.2.11

9.

achei que isto se pudesse adquirir por certo tipo de contágio simbiótico. enganei-me.

8.

um casaco sóbrio e comprido e um cachecol de lã chegam para me proteger de ti, ser inútil.