23.2.11

10.

vivemos neste silêncio oco de quem se quer sem se amar.
acumulamos dias como troféus de sal, sem que no entanto lhes provemos o gosto. deixamos palavras aqui e ali. palavras em que nenhum de nós crê. todas aquelas que podíamos sussurrar à noite vazia, cosemo-las ao frio.
e de nós resta um pequeno casaco de lã (ou de outro cristalino e gélido, se assim preferires).


mais tarde, somos encontrados com lãs rasgadas e de sexos juntos, congelados no silêncio das conversas que nunca tivemos.